ARTIGO

Postado em 14/01/2010 às 23h30 por Rafael Valente

Dez anos da consagração mundial

No calendário corinthiano, alguns dias têm um sabor diferenciado e por isso recebem atenção especial por parte da Fiel. Treze de outubro, aniversário do título Paulista-1977, que encerrou o jejum de grandes títulos, é talvez o maior exemplo. Mas há outros, como 16 de dezembro (Brasileiro-1990) e 6 de fevereiro (Paulista-1954). Em 2000, mais uma data ganhou destaque nesse calendário: 14 de janeiro. Nesse dia, há exatos 10 anos, o Corinthians sagrava-se campeão mundial pela FIFA, a maior conquista de toda sua história.

Aquele foi um dia de festa e o clube teve uma repercussão até então inédita em sua história. Foi capa dos principais jornais do mundo. O título mundial ainda coroou uma geração que ganhou quase tudo pelo Timão. Craques como Dida, Edílson, Luizão, Marcelinho Carioca, Ricardinho, Rincón e Vampeta, além de pratas da casa como Edu, Fernando Baiano e Kléber, formavam a base do que hoje é considerado o melhor Corinthians de todos os tempos. No Mundial ainda contou com a chegada dos zagueiros Fábio Luciano e Adílson. O técnico era Oswaldo de Oliveira.

A conquista veio somente na disputa de pênaltis, no Maracanã, com 73 mil pagantes, contra o Vasco da Gama, depois de uma partida muito acirrada e que terminou empatada sem gols no tempo normal e na prorrogação. Dida defendeu um pênalti e viu Edmundo desperdiçar outro para alegria da Fiel, que durante a comemoração criou o seu grito mais popular até hoje: “Oh, Oh, Oh! Todo Poderoso Timão!”

“Todos os títulos que ganhei pelo Corinthians foram importantes, mas o Mundial foi uma coisa maravilhosa. Foi o primeiro torneio internacional de clubes promovido pela FIFA, representado pelos melhores times de cada continente. Como não tivemos tempo de descansar entre o fim do Campeonato Brasileiro de 1999 e o início do Mundial, a disputa foi muito dura para nós. Na decisão, lembro que a Fiel invadiu o Maracanã e nos apoiou até o fim. Em determinado momento do jogo nós estávamos exaustos, sem condições de continuar, mas tiramos força da torcida”, revelou Marcelinho Carioca, em um dos vários depoimentos sobre a conquista.

UM POUCO DE HISTÓRIA. O primeiro Mundial de Clubes foi promovido pela FIFA em 2000. O Brasil foi escolhido como sede e, no total, oito clubes foram convidados para participar. Eles foram divididos em dois grupos, um com sede no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. A África foi representada pelo Raja Casablanca, do Marrocos; a Ásia pelo Al Nassr, da Arábia Saudita; a América Central e do Norte pelo Necaxa, do México; a América do Sul pelo Vasco da Gama, do Brasil; a Europa pelo Manchester United, da Inglaterra; e a Oceania pelo South Melbourne, da Austrália. Juntaram-se a eles o Corinthians, na condição de representante do país sede, e o Real Madrid, campeão da Copa Intercontinental de 1998.

No Grupo A, cuja sede foi em São Paulo, no Morumbi, o Corinthians enfrentou o Al Nassr, o Raja Casablanca e o Real Madrid. Venceu os dois primeiros e empatou com último. Como o clube espanhol conquistou a mesma quantidade de pontos, o Timão se classificou para a decisão no Maracanã pelo saldo de gols. Já no Grupo B, cuja sede foi no Rio, no Maracanã, o Vasco da Gama enfrentou o Manchester United, o Necaxa e o South Melbourne, e venceu todos os jogos. O clube carioca contava com Edmundo, Felipe, Juninho Paulista, Juninho Pernambucano e Romário.

Na decisão, os dois times privilegiaram a defesa e o jogo teve poucos lances de ataque. Mesmo assim não faltou emoção. Eram duas equipes muito técnicas e com jogadores de seleção. O Vasco contava com a vantagem de atuar em “casa” e com jogadores mais descansados. Já o Corinthians, que estava em atividade desde setembro de 1999 (o clube foi finalista do Brasileiro-1999 e por isso não parou no fim do ano), fazia o possível para se manter em campo. Vampeta, Rincón, Ricardinho, Marcelinho Carioca e Luizão jogaram no limite físico.

Com o empate sem gols, a disputa foi para os pênaltis. Dida defendeu a cobrança de Gilberto e Hélton pegou o chutou de Marcelinho, mas no último pênalti da série de cinco, Edmundo, ídolo vascaíno, chutou para fora e o Corinthians foi campeão. O Alvinegro ainda recebeu US$ 6 milhões como prêmio.

“Foi emocionante. Eu havia acabado de subir para o time profissional e peguei um time recheado de astros. Particie de várias conquistas. Lembro que na decisão de pênaltis, no Mundial, muitos jogadores de nome não quiseram bater. Aí quando o professor Oswaldo de Oliveira perguntou quem iria cobrar, eu e o Fernando (Baiano) fomos os primeiros a levantar a mão. Isso mexeu com o grupo. Imagina, dois meninos do terrão assumindo essa responsabilidade. Lembro que vibrei muito com o gol, tirei um peso das costas (risos)”, contou Edu alguns meses depois da conquista.

TORNEIO POLÊMICO. O Mundial de Clubes, contudo, não foi uma unanimidade. A principal crítica foi referente ao critério utilizado na escolha dos participantes. Clubes como Al Nassr, Corinthians, Real Madrid e Vasco da Gama entraram como campeões da temporada 1998, enquanto os demais se classificaram em 1999. Isso ocorreu também por causa de falta de datas para organizar o torneio. A ideia original era realizá-lo ainda em 1999, com os campeões de 1998. Porém ele foi adiado para 2000 e algumas confederações indicaram os campeões de 1999.

Outra polêmica foi em relação as sedes. No Rio de Janeiro os jogos foram disputados no Maracanã e em São Paulo, no Morumbi. Como não estava previsto o uso de outros estádios, os jogos não podiam ser realizados no mesmo horário e os times jogavam em rodada dupla. No Grupo A, por exemplo, Corinthians e Real Madrid chegaram até a última rodada com chances de classificação, mas como o clube merengue jogou antes, o Alvinegro entrou em campo contra o Al Nassr sabendo exatamente o placar necesário para ficar com a vaga na decisão.

O Corinthians ainda vivenciou duas situações opostas com relação a arbitragem. Primeiro foi beneficiado no jogo contra o Raja Casablanca, quando o árbitro italiano Stefano Braschi validou gol de Fábio Luciano em um lance que a bola não entrou na meta. Depois foi prejudicado pelo árbitro costarriquenho William Mattus Veja, que anulou um gol legítimo de João Carlos contra o Real Madrid, quando a partida ainda estava empatada sem gols --terminou empatada em 2-2.

Por fim, a critica mais dura ao Mundial foi a interrupção na sua realização. Inicialmente o torneio estava previsto para ser disputado anualmente e com sedes rotatórias, mas a falência da ISL, empresa que promovia as competições da FIFA, em 2001, fez com que a disputa do torneio fosse interrompida. Somente em 2005, quatro anos depois da primeira edição, a FIFA voltou a organizar o Mundial. Barcelona, Internacional, Manchester United, Milan e São Paulo também foram campeões.

CAMPANHA CORINTHIANA. O Timão disputou quatro jogos no Mundial Clubes, com duas vitórias e dois empates, além de ter marcado seis gols e sofrido dois. O atacante Edílson ainda foi escolhido como o melhor jogador da competição e levou a Bola de Ouro. Os jogos do Timão podem ser conferidos na seção Jogos, na temporada 2000, disponível a partir de hoje no acervoSCCP.

MUNDIAL DE CLUBES
05.01.2000 - Corinthians 2x0 Raja Casablanca
07.01.2000 - Real Madrid 2x2 Corinthians
11.01.2000 - Al Nassr 0x2 Corinthians
14.01.2000 - Vasco da Gama 0x0 Corinthians [3-4 p]

 
     
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