ARTIGO

Postado em 08/03/2010 às 22h30 por Rafael Valente

Todo Poderoso da Montanha

Passada a ansiedade pela estreia na Copa Libertadores, agora o Corinthians terá pela frente seu primeiro jogo como visitante nesta quarta-feira (10). O adversário será o Independiente Medellín, da Colômbia, clube tradicional e que assim como o Alvinegro ostenta a alcunha de Poderoso. Neste artigo, o acervoSCCP apresenta as características e as curiosidades do rival.

PARECIDOS, MAS NEM TANTO. Corinthians e Independiente Medellín são clubes quase centenários e dividem o favoristimo do Grupo 1 da Copa Libertadores. O objetivo é a conquista do torneio e as equipes se prepararam bastante. Essa, no entanto, não é única semelhança entre eles. Há outras similaridades curiosas.

Para começar, são clubes tradicionais e populares, mas que nunca venceram a Copa Libertadores e o melhor desempenho até hoje foi alcançar às semifinais, quando foram eliminados pelos brasileiros Palmeiras (2000) e Santos (2003). Outra semelhança é que seus maiores rivais são alviverdes e já foram campeões sul-americanos (o Palmeiras, em 1999, e o Atlético Nacional, em 1989).

O Alvinegro e o Tricolor jogam em estádios municipais e são conhecidos pela alcunha de Poderoso –-o Timão como Todo Poderoso pela conquista do Mundial de Clubes e o DIM como Poderoso da Montanha por estar sobre as montanhas centrais da Cordilheira dos Andes. Para completar, os dois idolatram argentinos (Tevez, pelo lado dos paulistas, e Moreno e Pekerman, pelo lado dos colombianos).

Os traços em comum, no entanto, param por aí. A origem dos clubes é bem diferente. Enquanto o Corinthians foi fundado por cinco operários de origem humilde, o rival teve influência de famílias proeminentes de Medellín, lideradas especialmente por Don Alberto Uribe Piedrahita. O Timão também reúne mais conquistas e teve mais jogadores revelados ao longo da sua história, sem contar conquistas como o Mundial de Clubes-2000.

UM POUCO DE HISTÓRIA. O futebol colombiano teve início em 1900, quando engenheiros e operários ingleses migraram para trabalhar na linha ferroviária que estava sendo construída entre Barranquilla e Puerto Salgar. Eles acabaram por introduzir a prática do esporte na Colômbia. Em pouco tempo, o futebol caiu no gosto popular e foi disseminado rapidamente pelo país.

Em Medellín, o esporte chegou em 1910 por meio dos funcionários da Ferrocarril. Em 1913, foi criado o Sporting por imigrantes belgas e suíços, motivo que fez com que o clube ficasse conhecido como Los Extranjeros. No mesmo ano, o colombiano Uribe Piedrahita decidiu formar um time nacional. Reuniu jovens de famílias ricas e criou o Medellín FootBall Club. O primeiro jogo foi contra o Sporting e o placar, uma derrota por 11-0, por pouco não selou sua existência.

A persistência de Piedrahita salvou o clube. Na época, o futebol estava no auge do amadorismo, com torneios regionais e amistosos. O grande momento do MFBC nesse período foi em 1927, quando representou o departamento de Antioquia nas Olimpíadas de Bogotá e venceu todos os jogos. Em 1929, o clube se desfez, mas foi reativado no ano seguinte como El Madrid --o nome original foi retomado em 1933. Somente nos anos 1950 o clube adotou o nome atual.

Em 1936, foi incluído na Liga de Futebol do Atlântico, que desde 1924 reunia equipes da costa oeste para disputa de um torneio. Clubes de Bogotá, Cali e Manizales também foram incluídos e deram origem à Associação Colombiana de Futebol (ACF). O amadorismo ainda imperava, mas agora havia um torneio nacional. O DIM --como ficou conhecido nessa fase-- dominou esse período e foi campeão nacional em 1938 e estadual em 1937, 1938, 1939, 1941, 1942, 1943, 1944 e 1945.

PERÍODO DE GLÓRIAS. Em 1947, o Millionarios liderou um movimento pela profissionalização do esporte no país. Esse movimento encantou os grandes clubes, mas encontrou resistência das equipes que disputavam as ligas inferiores. Também não contou com o apoio da Associação Colombiana de Futebol. Por isso, o Millionarios e os demais clubes da liga principal criaram a División Mayor (Dimayor) e o primeiro campeonato profissional do país em 1948.

A nova liga começou com moral. Tinha patrocinadores, era bem vista pela imprensa e um sucesso de público, mas os clubes jogavam na clandestinidade, uma vez que ela não era reconhecida pela FIFA. Por isso ficou conhecida como liga pirata, que, entre outras coisas, conseguiu atrair jogadores como Di Stéfano, Heleno e Moreno sem pagar nada aos proprietários. A liga pirata durou pouco tempo. Deixou de existir quando foi firmado o Pacto de Lima, em 1951, no qual os clubes colombianos aceitaram as normas internacionais e regressaram à ACF.

Mesmo assim os clubes se beneficiaram dessa fase, conhecido como El Dourado do futebol no colombiano, e reuniram os melhores jogadores sul-americanos daquele período. Durante a fase em que foi disputada, o DIM foi campeão em 1955 e 1957, com uma equipe que ficou conhecida como La Danza del Sol –-referência a uma tradicional cerimônia inca-– por contar com alguns jogadores peruanos. Foi a fase mais gloriosa do clube, que também fez diversas viagens internacionais.

Desde então, o DIM virou coadjuvante no futebol colombiano. Amargou um jejum de 45 anos até vencer o campeonato em 2002. Repetiu a conquista em 2004 e 2009. Ainda ganhou a Copa da Colômbia em 1981 e foi vice nacional em seis oportunidades. O clube já teve jogadores como Higuita, Valderrama, Valencia e os argentinos Moreno, Marino, Pekerman e Rodríguez.

PASSAPORTE PARA A AMÉRICA. Assim como acontece com o Corinthians, a conquista da Copa Libertadores é uma obsessão para a fanática torcida do DIM. Alimentada ainda mais pelo fato do maior rival do clube, o Atlético Nacional, já ter sido campeão. Contudo, o clube participou poucas vezes do torneio, apenas cinco. A estreia foi em 1967, quando foi eliminado na primeira fase. Em 1994, 2003 e 2005, parou no mata-mata e no ano passado foi eliminado na primeira fase. O melhor desempenho foi em 2003, quando foi eliminado pelo Santos nas semifinal.

Neste ano, o DIM pretende mudar essa história. É o atual campeão nacional –-perdeu apenas quatro dos 26 jogos disputados-- e manteve a base com o goleiro Bobadilla, os meio-campistas Ortiz, Mosquera e Rivas e ainda contratou o zagueiro brasileiro Anselmo. É verdade que perdeu o artilheiro Jackson Martínez e o meio-campista Mosquera para o México, mas aposta no atacante Arias, de 24 anos.

Na primeira rodada da Copa Libertadores-2010, o Medellín empatou com o Cerro Porteño, fora, em 1-1. Já no Campeonato Colombiano-2010 é o terceiro colocado, com 14 pontos, três atrás do líder Real Cartagena. Até agora perdeu apenas uma partida das sete disputadas. O time base é Bobadilla; Calle, Anselmo, Jiménez e Valencia; Restrepo, Ortiz, Mosquera e Rivas; Pardo e Arias. O técnico é Leonel Alvarez, que curiosamente foi campeão da Libertadores jogando pelo rival.

O DIM aparenta ser mais forte do que o Racing, tem uma torcida fanática e que deve dar trabalho. Contudo, ele não vai jogar no Estádio Atanasio Giradot, por conta dos jogos desportivos sul-americanos, e sim em Bogotá, a 2.600 metros de altitude, no Estádio Nemesio Camacho, com capacidade para 50 mil pessoas.

RETROSPECTO CORINTHIANO. Corinthians e Independiente Medellín se enfrentaram apenas uma vez. Foi em 1954, na Colômbia, pelo Torneio Maria Eugênia Rojas. Na época, o Timão contava com Gilmar, Luizinho, Roberto Belangero, Carbone, Cláudio e Baltazar (estes dois últimos não jogaram), enquanto o DIM tinha Moreno, Sacco, Ortiz, Viáfara, entre outros. Mesmo assim o Alvinegro venceu por 7-3. Carbone, Nardo e Simão marcaram dois gols cada, Souzinha completou o placar.

Levando-se em conta o retrospecto contra clubes colombianos, o Timão leva vantagem. São 14 jogos, com nove vitórias, dois empates e três derrotas, 31 gols marcados e 21 sofridos. Vale a pena destacar as partidas contra o América de Cali, pelas quartas-de-final da Copa Conmebol-1995, e contra o Deportivo Cali, pela fase de grupos da Copa Libertadores-2006. O primeiro eliminou o Alvinegro perdeu no Pacaembu por 2-1, mas venceu em Cali por 3-1, de virada. Já o segundo é a maior vítima do Timão, com duas derrotas.

O primeiro confronto contra um clube colombiano foi contra o Millionarios, em 1954, e a derrota por 1-0 encerrou uma invencibilidade do Corinthians de 32 jogos internacionais invictos –-a maior de toda a história do clube. O Millionarios é também o maior algoz do clube alvinegro, com duas vitórias e um empate. Por fim, no Estádio Nemesio Camacho, palco do jogo, o Timão já disputou sete partidas e tem um saldo de duas vitórias, dois empates e três derrotas, com 10 gols marcados e 12 sofridos. Resta saber agora se o saldo vai melhorar ou piorar...

Independiente Medellín
   

Corporácion Deportiva
Independiente Medellín


Fundação:
15 de março de 1913

Estádio: Atanasio Girardot (52.875)

Principais títulos:
Campeonato Colombiano (1955, 1957, 2002, 2004 e 2009)
Copa Colômbia (1981)

Site: www.dim.com.co

 
     
Estádio Atanasio Girardot
Estádio Atanasio Girardot
 
CORINTHIANS x COLOMBIANOS

1954  - 0x1 Millionarios
Nemesio Camacho (Troféu Rojas)

1954 - 2x2 Santa Fé
Nemesio Camacho (Troféu Rojas)

1954 - 4x3 Atlético Nacional
Atanasio Girardot (Troféu Rojas)

1954 - 7x3 Medellín
Atanasio Girardot (Troféu Rojas)

1954 - 3x3 Millionarios
Nemesio Camacho (Amistoso)

1954 - 3x1 Boca Juniors
Pascual Guerrero (Amistoso)

1963 - 1x0 Santa Fé
Nemesio Camacho (Amistoso)

1963 - 2x4 Millionarios
Nemesio Camacho (Amistoso)

1963 - 1x0 Caldas
Palogrande (Amistoso)

1963 - 1x0 Santa Fé
Nemesio Camacho (Amistoso)

1995 - 2x1 América de Cali
Pacaembu (Copa Conmebol)

1995 - 1x3 América de Cali
Pascual Guerrero (Copa Conmebol)

2006 - 1x0 Deportivo Cali
Pascual Guerrero (Copa Libertadores)

2006 - 3x0 Deportivo Cali
Pacaembu (Copa Libertadores)

 
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